Observando os dados dos incêndios florestais e, tomando como referência os dados dos grandes incêndios florestais ocorridos no Alto Minho, constata-se um aspecto que lhes é comum, na maioria dos casos: a ocorrência dá-se num determinado intervalo horário, onde a exposição, a altura angular do Sol e a época do ano parecem alinhar-se para potenciar o incêndio florestal.
Obviamente que há muito a investigar sobre esta matéria, contudo atrevi-me a relacionar a carta solar da região Norte com a carta de flamabilidade de Doug Campbell, cujo cruzamento de ambos instrumentos deu origem aquilo que podemos chamar, sem qualquer pretensão, de “CARTA SOLAR E DE FLAMABILIDADE POTENCIAL”.
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Observando a figura destacam-se:
  • um círculo exterior graduado representado o azimute exposição/orientação da encosta) pelo que varia de 0º a 360º; 
  • um conjunto de círculos que representa  os intervalos da altura angular do Sol, pelo que varia de 0º a 90º; e as trajectórias solares aparentes de alguns dias do ano, ao longo do ciclo diurno;
  • estabeleceu-se um intervalo de níveis flamabilidade com base na Carta de Flamabilidade de Campbell, graduado em Máxima, Muito Alta e Alta, tendo em consideração a época do ano, o ciclo diurno e a exposição, bem como dados estatísticos das ocorrências de 2011 no Alto Minho, uma vez que a georreferenciação é mais precisa pelo uso dos rádios do SIRESP;
  • colocou-se uma flecha circular no sentido rotacional do Sol, com graduação da cor, procurando representar a evolução da flamabilidade dos combustíveis florestais.
Como podemos constatar, considerei o nível de flamabilidade proporcional ao intervalo da altura angular do Sol, cujo valor máximo é 90º, correspondendo ao zénite e o valor mínimo é de 40º, daqui para baixo a flamabilidade dos combustíveis vai reduzindo com transcurso do dia e da exposição da encosta.

INFLUÊNCIA DOS NÍVEIS DE FLAMABILIDADE DURANTE O ANO

A influência do NÍVEL DE FLAMABILIDADE MÁXIMA, ou seja o intervalo onde os combustíveis atingirão o pico de flamabilidade (mais quentes e disponíveis) ocorre entre as 10 e as 14 UTC, com particular incidência entre o final de Março e do mês de Setembro, onde a altura angular do Sol encontra-se acima dos 60º, pelo período horário mais longo do ano, logo os combustíveis situados num relevo com exposição entre os azimutes 120º e 240 º encontrar-se-ão no máximo da flamabilidade devido ao prolongado tempo de exposição e de insolação directa. Contudo o intervalo horário diminui para 2 horas (11 e 13 UTC) entre Outubro e Março, reduzindo-se igualmente o intervalo de exposição dos combustíveis. 
A influência do NÍVEL DE FLAMABILIDADE MUITO ALTA ocorre entre as 14 e as 17 UTC, com particular incidência entre os meses de Março a Setembro, a partir dos 40º da altura angular do Sol, permitindo um aumento da flamabilidade dos combustíveis expostos entre os azimutes 240º e 280º. Este nível prolonga-se até finais do mês de Setembro, reduzindo o intervalo azimutal da exposição dos combustíveis e o intervalo horário.
A influência do NÍVEL DE FLAMABILIDADE ALTA ocorre entre as 6 e as 10 UTC, com particular incidência entre os meses de Março a Setembro, a partir dos 40º da altura angular do Sol, permitindo um aumento da flamabilidade dos combustíveis expostos entre os azimutes 80º e 120º. Este nível abrange praticamente todo o ano, contudo vai reduzindo o seu campo de maior influência à medida que transcorre o ano.

CONCLUSÕES

Considerei a necessidade de limitar um intervalo crítico, onde a flamabilidade dos combustíveis condicionará o comportamento do fogo, tendo por base o histórico de ocorrências e os pontos de início de grandes incêndios florestais, pelo que foi considerado o intervalo horário entre as 9 e as 14 UTC e o intervalo azimutal das exposições entre 120º e 240º, abrangendo praticamente todo o ano.
A “Carta Solar e de Flamabilidade Potencial” (CSIP) permite ao analista de incêndios determinar de modo praticamente intuitivo, a flamabilidade potencial de acordo com a insolação e o sombreamento, ou seja permitirá apoiar a decisão para questões tão fundamentais como:
  • Onde existe maior probabilidade de ocorrer um reacendimento e em que período do dia?
  • Qual o comportamento do fogo esperado? 
  • A situação do incêndio vai ou não agravar-se se alcançar uma determinada exposição?
  • Que medidas tomar em cada situação?
Contudo, este instrumento carece de testes, pelo que se apela à colaboração e contributos de todos que pretendam contribuir à sua melhoria, para que constitua realmente um instrumento útil a todos aqueles que estão na planificação em matéria de defesa da floresta contra incêndios, na análise dos GIF’s e ocorrências e na tomada de decisão no combate.

Emanuel Oliveira, 2012